Folha de São Paulo, 01/11/2010
“Carregador de bebês” permitiu evolução de ancestrais humanos
novembro 1, 2010meamarronumcolo no site da pais&filhos
agosto 19, 2009Os carregadores de bebês voltaram à moda. Descubra a importância do colo e a origem do sling
por Deborah Trevizan, mãe da Isadora e do Pietro
Nascer deve ser um tremendo susto. Dentro do útero, aconchegado e embalado 24 horas por dia, o bebê não precisa fazer nada para conseguir o que quer: comer, dormir… Está tudo lá. Do lado de fora, começa uma verdadeira batalha. Daí, só chorando mesmo.
Qual a mãe que nunca ouviu, em forma de conselho, que seu filho está ficando muito no colo, que vai ficar mal acostumado e manhoso? Às vezes, até os próprios médicos aconselham a não atender nossas crias assim tão prontamente, tirando do berço ao primeiro sinal de desconforto, com o perigo de torná-los dependentes demais.
No livro o Bebê mais Feliz do Pedaço, o pediatra norte americano Dr. Harvey Karp conta a história de uma tribo no deserto de Kalahari, na África. Na tribo Kung, as mães carregam seus filhos por quase 24 horas, diariamente. Isto mesmo: andam, trabalham, comem, dormem sempre com os filhos grudadinhos, amarrados ao corpo por meio de uma tira de couro. Cientistas passaram algum tempo observando os hábitos da tribo e em relação aos bebês fizeram uma interessante observação: eles nunca choram ou, pelo menos, não choram desesperadamente como muitos bebês. Será que é uma coincidência ou eles são mais calmos por continuarem a ter seus desejos e necessidades satisfeitos imediatamente após o nascimento?
Mães asiáticas, africanas e da América do Sul sempre privilegiaram o contato com o bebê e carregam suas crias para cima e para baixo em cangurus e carregadores (vale até lenços amarrados). Estas mães serviram de modelo para que diversos tipos de carregadores de bebês surgissem. A idéia se espalhou pela Europa, EUA e chegou ao Brasil: cada vez mais mulheres usam slings, wraps, fast wraps, mei tais e cangurus. Há até um termo usado nos EUA para estes carregadores: babywearing, criado pela família do Dr. Sears, renomado médico que comprou a idéia do carregador de bebês moderno, com a incorporação de um par de argolas no lugar do tradicional nó. Segundo o conceito do Dr. Sears, o sling é o instrumento, mas o objetivo principal é o colo.
Este costume chegou ao Brasil por meio de mulheres que tiveram contato com carregadores estrangeiros e o sling tem sido o preferido entre as brasileiras. Nosso toque foi dado com estampas, cores e tecidos leves. A pioneira na fabricação brasileira foi Analy Uriarte, mãe de Teodoro, Bruna e Frederico, desde 2003. Em 2007, Analy abriu a Sampasling com mais duas sócias. Ela conta que começou a fabricá-los para promover o babywearing, quando seu primeiro filho nasceu, há oito anos.
Naquela época, as pessoas estranhavam ao ver o menino pendurado junto ao corpo da mãe. Três anos depois, quando a segunda filha nasceu, as coisas foram diferentes. “Existe uma desconfiança inicial, mas depois passa. O bebê quer colo mesmo e a mãe precisa usar os braços. Acho que o sling ficou adormecido, mas não esquecido”, afirma Analy, lembrando que hoje já virou moda entre famosas. Atualmente, Analy está radicada no Paraguai e promove um trabalho social para divulgar o babywearing.
Movimento mundial
A onda virou um movimento mundial: no ano passado, aconteceu a primeira Semana Mundial do Babywearing. Mães de todo o mundo se reuniram com seus bebês a tiracolo. Em São Paulo, um grupo de mulheres também se organizou em um evento no Parque da Água Branca, zona oeste da cidade, com o nome de “Me amarro num colo”.
A educadora Elly Chagas, mãe de Caetano, foi umas das organizadoras e esteve à frente do evento em São Paulo. “Procuramos destacar uma postura mais humanizada na relação entre mãe e bebê”. Ela conta que o evento teve a pretensão de ser apenas simbólico, mas se mostrou bem efetivo. Mães que não conheciam o babywearing apareceram e as mulheres presentes conversaram sobre a relação mãe-bebê e a importância do colo. “Quem participou saiu diferente”, afirma.
A teoria de que os bebês ficam mimados ou dependentes do colo é rebatida no livro O Bebê mais Feliz do Pedaço. Segundo o autor, mesmo se um bebê ficasse no colo por 12 horas ao dia, não poderia ser considerado um excesso, pois já seria uma redução de 50% do que ele desfrutava no útero, 24 horas.
O carrinho é um lugar confortável e prático para mães e bebês, mas nem sempre é a melhor opção. Uma pesquisa feita pela Universidade de Dundee, na Escócia, analisou mais de 2.700 grupos de pais e filhos: os pais que empurravam seus filhos no carrinho em posição de costas conversavam menos com a criança, que geralmente ficava estressada. Por outro lado, bebês e crianças levadas de frente para quem as conduziam ficaram mais propensas a falar, rir e interagir. Ou seja, a atenção não faz mal e o colo é a forma mais natural de dar conforto e amor ao bebê, do mesmo jeitinho que era dentro do útero.
Para o pediatra Carlos Eduardo Corrêa, filho de Victor e Sylma, não existe mimo em relação à criança com menos de um ano. “Carente fica quem não tem”, diz ele. “É incoerente pensar que o certo é afastar o bebê da mãe, como acontecia desde o nascimento nos hospitais. Hoje, a maioria das instituições já adota o alojamento conjunto”, explica. Segundo o médico, seguimos uma tendência européia de evitar o contato físico. Ele ainda explica que estas regras impostas pela puericultura, divisão da medicina que trata de bebês, é algo que vem em um “pacote” de regras, aprendido pelos médicos em sua formação. Colocar hora e tempo para mamar, por exemplo, sugere uma rotina que não há razão para ser seguida por todos, pois cada família tem seu ritmo.
A psicóloga e psicopedagoga Eliana de Barros Santos, mãe da Mariana, da Rebeca e Laerte, concorda que dar colo é se entregar. “A mãe que não está disponível não exerce a maternidade em sua plenitude”, afirma. Foi esta entrega à maternidade que motivou a professora de dança Tatiana Tardioli, mãe de Nina, a carregar sua filha para o trabalho, auxiliando outras mães neste período. Ela dá aulas de dança para mães e bebês na Casa Materna, em São Paulo, utilizando carregadores. “Eu dancei e dei aulas de dança durante toda a gravidez da minha filha. A doula que acompanhou meu parto sugeriu que eu lecionasse para mães e bebês ao mesmo tempo, mostrou como funciona este tipo de aula fora do Brasil. Aí criei a proposta do curso, somando minha experiência, conhecimentos sobre o corpo e cuidados com o bebê.”
Afinal, qual é o problema em relação ao excesso de colo? “O colo deixa de ser saudável quando impede o desenvolvimento físico”, diz Eliana. Em outras palavras, só não vale sufocar a criança e impedir seus movimentos. A pediatra Elga Castanheira, mãe do Rodrigo, do Ricardo, da Renata e do Rafael, afirma que qualquer excesso não é bom. “Houve uma época em que o colo e outras atitudes de cuidado com os bebês foram consideradas cuidados extremos e desnecessários. Isto felizmente já mudou e atualmente sabe-se que o carinho é fundamental para o desenvolvimento da criança. A amamentação não é feita no colo?”, completa.
Outra prova de que colo faz bem é o método conhecido com Mãe Canguru, muito utilizado com bebês prematuros. O Método Mãe Canguru foi inicialmente desenvolvido em maternidades da Guatemala onde a falta de incubadoras fez com que pusessem os bebês dentro das roupas das mães para mantê-los aquecidos. Desde então tem demonstrado beneficiar muito recém-nascidos permitindo que eles regulem melhor seu ritmo cardíaco e sua respiração, melhorem o sono, cresçam mais depressa e com menos choro e recebam alta antes dos prematuros que não usaram o método.
Tipos de carregadores
Sling: “Slingar” um bebê é transportá-lo junto ao corpo, sustentado por meio de uma faixa. Há slings que funcionam como uma “rede”, inteiros, onde os bebês se acomodam. Outros têm argolas e podem ser ajustados.
Wrap: É um pano que tem de 4 a 6 metros de comprimento e é amarrado dependendo da forma em que o bebê é colocado. Ele pode ser carregado na frente ou de costas, com uma boa distribuição de peso.
Fast Wrap: Uma variação do wrap. Prático para passeios ou uso domiciliar. Não tem fivelas, zíperes, nenhum ajuste e vem em 5 tamanhos. Dá para carregar o bebê em várias posições: na frente, nas costas ou de lado, dependendo da idade e do desenvolvimento. Quando a criança dorme, é só puxar o tecido para apoiar a cabeça.
Canguru: é o mais tradicional. É como se fosse uma cadeirinha com fivelas reguláveis. Pode ser usado na frente ou nas costas de quem o leva. A posição do bebê também pode variar entre virado para quem o carrega ou de costas.
Mei Tai: Com origem na Ásia, seu formato pode ser quadrado ou retangular e tem alças em cada canto, que são amarradas na cintura e passam pelos ombros e costas. A professora de inglês Heather Allan da Silva, mãe de Emily, Anna Elisa, Luca, Logan e grávida do Leo, usa muito o Mei Tai. “A vantagem é poder colocar bebês maiores com apoio nos dois ombros, mas mantendo as pernas em uma posição que não sobrecarrega a coluna da mãe.”
Taiwan, ilha formosa de babywearing
março 15, 2009“Group of the Kwei-ying clan, N. W. Formosan mountains.” From sketches by R. Swinhoe. 1863. Robert Swinhoe, “Notes on the ethnology of Formosa,” 1863 paper read before the Ethnological Society, after p. 16.
“Pepo-hoan woman and child.” in Reclus, 1884, Reclus, Elisée. “Formosa.” The earth and its inhabitants. Asia. Vol. II, East Asia: Chinese empire, Corea, and Japan. Edited by A. H. Keane. New York: D. Appleton, 188, p. 282.
um trecho da história do sling no Brasil, una persona
janeiro 4, 2009Por Ana Cristina Duarte
Analy Uriarte (foto) foi a primeira pessoa a fabricar slings no Brasil, divulgar a idéia e vestir a camisa.
Para além de divulgar, deu colo para mães assustadas, fez slings de madrugada, entregou pessoalmente mais de 200 slings em 6 anos e enviou muitos pelos correios…
Emprestou sua casa todo primeiro sábado do mês durante anos, oferecendo dicas, conselhos e acolhendo centenas de mães, pais e bebês num encontro denominado slingada.
Não é só fabricar ou vender que faz uma idéia dar certo. É preciso acreditar profundamente na idéia e ter um imenso prazer naquilo que faz.
Para quem gosta de colo, DIARIAMENTE!
janeiro 3, 2009Bons momentos de nosso encontro de babywearing
2008
no Parque da Água Branca
NOS CRÉDITOS DO VÍDEO NÃO CONSTAM POR ERRO DE EDIÇÃO, MAS QUEREMOS DESTACAR A PARTICIPAÇÃO DE:
ALÊ MATOS&GABI+AVÓ BABONA
MARIANA&CATARINA
EQUIPE IDEALIZADORA
Ana Basaglia Analy Uriarte Elly Chagas Fabíola Cassab Flávia Gontijo Gabriela Reis Heather Allan Ligia de Sica
Depoimento de um pai
dezembro 9, 2008Meu primeiro contato com o sling, foi ver uma amiga usando, achei lindo e me parecia bastante confortável para o bebê. O meu segundo contato foi quando fui em busca de um para a mamãe Juliana e para a Tainara, meu bebê. Creio que buscava um presente que seria bonito para a Juliana e poderia proporcionar um conforto para uma longa caminhada de uma vida inteira juntas. Aí começou a cair uma ficha que o sling era mais que um pano bonito. Essa santa rede para mim era a entrada, uma porta, um contato com um conjunto de mulheres que encaram a maternidade de uma outra forma, querem ter seus filhos de parto normal, querem amamentá-los pelo maior tempo possivel, querem carregar seus filhos no colo, juntos confortáveis … Pensam e vivem uma nova forma de encarar a maternidade.Isso me encantou … Me encanta ver a Juliana passeando com seu sling, ver a nossa pequena dormindo calma e tranquila, ver a possibilidade construida por um conjunto de mães de ir pro cinema, e de conversarem sobre a maternidade, a amamentação, sobre o futuro que se constrói agora. E para mim o encontro babywearing foi a síntese desse momento. Fomos com o intuito, de entender o que é isso. Lá encontrei amigas, mães que participavam, mães que passavam por ali e ali ficaram. Me senti numa comunidade, resgatando da nossa cultura indigena ancestral essa forma de carregar nossas filhas e filhos e mais que isso, como a tribo se sentia responsável pela educação, e pelo bem estar de todas crianças.
E aconteceu!
dezembro 9, 2008E nosso sábado 15 de novembro foi de uma beleza rara!
Teve gente que foi sem saber, mas foi essencial.
Teve quem foi aprender a usar o babywearing sling.
Teve a presença de pais que apóiam e usam slings.
Teve a participação simpática de avós e tias.
Confira algumas imagens:
É NESTE SÁBADO!
novembro 14, 2008O evento
outubro 17, 2008Entre os dias 12 e 19 de Novembro comemora-se em todo o mundo a Primeira Semana Internacional de Babywearing. Em São Paulo, teremos atividades referentes a esta celebração no sábado 15 de novembro.
Babywearing é a antiga arte de carregar seu bebê junto ao seu corpo, preso por um carregador de pano. Bebês devem ter sido carregados dessa maneira desde os primórdios dos tempos, pois manter a cria seguro de predadores e próxima da mãe era a melhor garantia de sobrevivência da espécie.
Hoje o costume permanece em diversas comunidades tradicionais em todo o mundo: em tribos indígenas da América do sul, na Índia, China e Japão e especialmente na África usam-se panos coloridos para prender o bebê ao corpo da mãe ou outro cuidador podendo ser o pai ou até outra criança.
O termo babywearing foi criado nos EUA pela família do Dr. Sears, renomado médico que comprou a idéia do carregador de bebês moderno com a incorporação de um par de argolas no lugar do tradicional nó. Ele percebeu que o bebê junto ao corpo da mãe tinha inúmeras vantagens que mais tarde foram corroboradas por estudos comparativos de carregadores desestruturados e bebês-confortos e podem ser avaliadas em relação à prática da mamãe-canguru.
No entanto, as maiores vantagens foram relatadas pelas próprias mães que afirmavam que carregando a criança dessa maneira garantiam um bebê mais feliz e ainda conseguiam retomar algumas atividades antes impensadas enquanto o bebê queria colo. Foi essa propaganda boca-a-boca que levou ao desenvolvimento dos diversos modelos e releituras de carregadores de pano no mundo de hoje. A fama de uma vida mais fácil, de um bebê mais satisfeito e feliz foi mais forte e rompeu a barreira inicial da “estranheza” do costume no mundo de hoje.
O costume chegou ao Brasil através de mães que tiveram contato com carregadores estrangeiros e nossa releitura já tem o gostinho daqui: panos leves, coloridos e charmosos que deixam a mãe mais bonita enquanto a praticidade de levar uma vida mais ativa junto do bebê é reconquistada.
O contato direto com a mãe promove a integração e o rápido atendimento das necessidades do bebê, sejam elas um olhar, um carinho ou amamentação em livre demanda. Em ano de ampliação da licença maternidade, babywearing vem para ajudar cumprir as metas governamentais de amamentação exclusiva nos primeiros seis meses.